A missão brasileira liderada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que está na China desde o início da semana com objetivo de estreitar as relações comerciais no setor produtivo da Saúde entre os dois países, já apresenta os primeiros resultados. Nesta quarta-feira (9), a EMS, maior farmacêutica brasileira, assinou um acordo de transferência de tecnologia com o laboratório chinês Shanghai Biomabs para a fabricação no Brasil de seis produtos biotecnológicos de última geração. Dentre esses produtos estão os chamados anticorpos monoclonais, medicamentos biológicos com indicação para tratamento de doenças graves e de alto custo em seus tratamentos, especialmente cânceres diversos, artrite reumatoide e osteoporose, entre outras.
O primeiro produto alvo dessa parceria será o Etanercepte, cuja indicação principal é a artrite reumatóide, e que hoje gera gastos anuais da ordem de R$ 80 milhões ao Ministério da Saúde, principal comprador do medicamento.
“A entrada de uma empresa brasileira neste mercado ampliará a concorrência, o que deverá levar à redução do preço do medicamento, uma vez que hoje ele é fornecido ao Brasil por apenas uma fabricante multinacional. Além disso, a transferência de tecnologia fortalece o complexo industrial brasileiro e contribui para a redução da nossa dependência externa em relação à tecnologia de ponta em saúde”, afirma o ministro Temporão.
Estima-se que 850 mil pessoas sofram de artrite reumatóide no país. Cada ampola de 50 mg do medicamento custa hoje ao ministério R$ 708,00. Levando-se em conta que o tratamento mensal é composto por quatro ampolas, o custo do tratamento por cada paciente chega a custar à pasta, mensalmente, R$ 2.832,00.
Até o mês passado, o ministério financiava 90% do valor do remédio por meio de transferência de recursos aos estados, aos quais cabia sua aquisição. Portaria recém-publicada pelo Ministério da Saúde transfere para a pasta a responsabilidade pela compra centralizada deste medicamento, o que deverá trazer uma economia de R$ 29 milhões ao ano para os cofres públicos.
Segundo a diretora de Relações Externas da EMS, Telma Salles, a expectativa é iniciar a produção do Etanercepte em território nacional em até cinco anos.
A cerimônia de assinatura do acordo entre as duas empresas, a ser realizada na tarde desta quarta-feira, em Pequim, contará com a presença do ministro e de sua delegação, a qual integram ainda representantes da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e representantes de indústrias farmacêuticas brasileiras.
OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS – Além dos representantes do governo, participam da comitiva liderada pelo ministro Temporão à China entidades ligadas à indústria farmacêutica que representam mais de 300 empresas nacionais. Nesta quarta-feira, a a delegação brasileira promoveu um workshop sobre oportunidades de negócios no setor de saúde do Brasil, que contou com a participação de mais de 120 empresários chineses em busca de conhecimento sobre o segmento no país. Além disso, os representantes dos dois países participaram de uma rodada de encontros de negócios.
“Não viemos aqui para simplesmente discutir ampliação do comércio bilateral da indústria entre Brasil e China. Queremos construir um caminho de parcerias para desenvolver e produzir tecnologias de interesse da saúde pública brasileira”, afirmou Temporão. Ele lembrou que, recentemente, um acordo de transferência de tecnologia entre a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e um laboratório da Ucrânia para a produção nacional de insulina gerou redução de 70% no preço do produto adquirido por pregão.
Atualmente, o mercado farmacêutico movimenta R$ 28 bilhões por ano, apresentando altas taxas de crescimento anual e situando-se entre os 10 maiores do mundo. Para o setor de produtos médicos no Brasil, o faturamento é de cerca de R$ 8 bilhões por ano.
Esta é a terceira missão internacional do ministro da Saúde com o intuito de fortalecer os negócios no segmento. Em julho de 2008, Temporão levou empresários do setor à Índia; e, em setembro deste ano, liderou missão à Inglaterra, onde o governo brasileiro assinou acordo com a multinacional GlaxoSmithKline para investimentos de R$ 183,7 milhões no desenvolvimento de novas vacinas.
“A idéia é atrair empresas ao Brasil, ampliar nossos processos de transferência de tecnologia, usando o nosso mercado, que é cada vez maior; o poder de compra do estado; e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como grande financiador, para que possamos ampliar a produção no Brasil”, afirma o ministro.
A balança comercial do setor de saúde no Brasil deve fechar este ano com um déficit de US$ 8 bilhões. Mas, conforme ressaltou o ministro, a preocupação é principalmente com o déficit de conhecimento. “Nossa prioridade é reduzir a defasagem de conhecimento e desenvolver tecnologia no Brasil.”
De acordo com ele, o mercado brasileiro está pronto para atrair novos investimentos por uma série de fatores, entre eles: sua capacidade reguladora, gerenciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); potencial do setor, que movimenta 8% do PIB (R$ 160 bilhões) e emprega 9 milhões de pessoas; capacidade de financiamento, por meio do BNDES que tem uma carteira de R$ 3 bilhões disponíveis para a indústria farmacêutica; e políticas lançadas entre 2007 e o início deste ano, que tratam da Inovação e Pesquisa, da Política Industrial e da Saúde, esta última lançada pelo ministério, que possui um capítulo especial para o complexo produtivo.
DE OLHO NO SUS – Em encontro com a delegação brasileira, nesta terça-feira (8), o ministro da saúde chinês, Chen Zhu, manifestou interesse em visitar o Brasil no próximo ano para conhecer pessoalmente o funcionamento do SUS (Sistema Único de Saúde). A China iniciou, em abril passado, um plano de reforma de seu sistema de saúde, que tem como principal objetivo ampliar a cobertura da atenção básica, especialmente para a população rural – que representa mais da metade de sua população e que tem acesso precário aos serviços de saúde - e caminhar para o acesso universal, a exemplo do SUS, que, em 20 anos de existência, incluiu mais de 140 milhões de pessoas que não tinham qualquer acesso à saúde no Brasil.
Chen Zhu também sugeriu que os dois países impulsionem o intercâmbio entre seus institutos médicos e universidades para fortalecer a pesquisa científica e sugeriu iniciar discussões para a criação de um instituto de pesquisa comum, por meio da Fiocruz. Para Temporão, a área de princípios ativos encontrados em plantas – fitofármacos – tem grande potencial de cooperação bilateral, e deverá constar na agenda da Fiocruz em parceria com institutos de pesquisa e produção chineses.
Nesta quinta-feira, a delegação brasileira visitará a sede administrativa da Medicina Tradicional Chinesa. Parte da delegação brasileira terá ainda uma agenda de visita à agência reguladora chinesa de alimentos e medicamentos, a State Food and Drug Administration (SFDA), para troca de conhecimentos na área de regulação sanitária.
Fonte:Portal da Saúde