domingo, 24 de janeiro de 2010

Imprensa, pandemias e lobby farmacêutico


A polêmica está criada e ela se justifica plenamente: a pandemia de gripe suína se transformou num negócio espetacular para a indústria farmacêutica; há, em muitos países, doses de vacina em estoque saindo pelo ladrão e a mídia (em todo o mundo) fez o jogo do bandido.

Passados alguns meses do pânico que se instalou planetariamente (e também por aqui) sobre a gripe suína, fica mais fácil perceber que autoridades, jornalistas, laboratórios e até organizações tidas como sérias (a OMS está sob suspeita há um tempão) acabaram se enredando num jogo que, mais do que contemplar a saúde (ou a doença, que tem sido o foco da mídia), serviu para aumentar o lucro da poderosa indústria da saúde que, repetidamente, atenta contra o bolso e a ética.

Quem já teve a curiosidade de ler o excelente livro de Marcia Angel sobre a indústria farmacêutica (conhecida pela alcunha de Big Pharma), aqui publicado pela Editora Record, sabe que o seu negócio, como de toda indústria predadora, é prioritariamente o lucro e que, apesar do discurso, alguns de seus representantes farão qualquer coisa para aumentá-lo.

Ninguém deve ignorar que parcela considerável dos investimentos da indústria da saúde vai para a propaganda/marketing e que o lobby é formidável sobre governos, parlamentares e sobretudo pesquisadores e profissionais de saúde, muitos, infelizmente, a seu serviço. Há relatos sobre pesquisadores que chegaram a assinar (por grana, obviamente) artigos que não eram de sua autoria (mas de laboratórios) para burlar a vigilância de revistas médicas de prestígio e o terreno nesta área é absolutamente contaminado, com tráfico de influência, ameaças, pressões de toda ordem, para fazer valer os interesses formidáveis de quem fabrica medicamentos (certo, há exceções, mas elas apenas confirmam a regra).

Artigos e reportagens recentes indicam a estratégia utilizada durante a anunciada pandemia de gripe suína (ninguém está dizendo que a doença era brincadeira) foi efetivamente gerar desinformação, estimular rapidamente a compra de vacinas por governos e até influir no uso inadequado de doses excessivas sem eficácia comprovada (mas que aumentaram em muito o lucro dos fornecedores de remédios).

A este respeito, é ilustrativo o artigo do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, dr. Reinaldo Guimarães, publicado recentemente no Valor Econômico sob o título "O grande negócio da pandemia de influenza" (15 a 17/01/2010, p. A10). Nele, o especialista demonstra a relação estreita entre os laboratórios e o mundo da biotecnologia e, com isso, a aproximação/apropriação da produção de vacinas.

Nele, também condena a imprensa mundial pela sua cobertura sensacionalista, com influência decisiva sobre os governos que, por isso aceitaram preços nada favoráveis para compra em massa. Diz ele: "A cobertura midiática e a emergência objetiva estabeleceram um quadro de "pegar ou largar" que foi decisivo para uma fixação de preços difícil de ser justificada em termos de custos reais. Apenas para exemplicar, em média, o preço da dose das vacinas pandêmicas (todas as procedências) é o dobro do que tem sido pago pela dose da vacina sazonal. Difícil de explicar se considerarmos que a pandêmica possui apenas um antígeno, as sazonais possuem três e a tecnologia é a mesma, essencialmente."

A OMS, por estar à frente desta estratégia e incentivar o uso da vacina, está sendo investigada e já se dispôs a rever regras de pandemia. Reportagem publicada pelo Estadão e de autoria de Jamil Chade, correspondente em Genebra, sinaliza para o encalhe brutal de vacinas compradas às pressas e para conflitos de interesses. Por exemplo, um jornal escandinavo acabou descobrindo que um membro do Grupo Estratégico de Especialistas em Imunização (Sage), o finlandês Juhani Eskola, recebeu em seu Instituto mais de 9 milhões de dólares em financiamento da GlaxoSmithKline, uma das empresas que fabricam a vacina contra a gripe. Outro especialista, o holandês Albert Osterhaus, também está sendo acusado de relação com a indústria, já que recebeu bolsas , financiamento e contribuições da GSK, Sanofi, Novartis etc. Enfim, tem gato na tuba, como se costuma dizer por aqui.

Neste momento, na nossa terrinha, o governo está desencadeando uma batalha imensa para impedir que a Big Pharma consiga estender a patente de alguns medicamentos, estratégia bastante conhecida para impedir que apareçam concorrentes, inclusive genéricos, e que, com isso, possam continuar auferindo lucros escandalosos. Remédios de uso contínuo e voltados para pessoas que podem (???) pagar são absurdamente caros por aqui. Entre os medicamentos que estão inseridos no embate, destacam-se o Viagra, o Plavix, o Lípitor, o Diovan , o Zyprexa, ou seja líderes ou que estão entre os mais vendidos no Brasil para suas indicações.

Temos denunciado, assim como outros colegas independentes, a ação nefasta da indústria da saúde (você assistiu ao filme O jardineiro fiel?) e é de se esperar que mais colegas jornalistas abram o olho com informações aparentemente técnico-científicas que se originam de fontes também aparentemente insuspeitas.

Exemplo de bom jornalismo pode ser visto na reportagem de Milagros Pérez Oliva, no jornal El País onde um laboratório tentou, com apoio de representantes da comunidade científica, entidades e profissionais de saúde, enganar a imprensa, para divulgar um medicamento aclamado como inovador e que não merecia este rótulo.

Enfim, olho vivo com a indústria da saúde porque ela está, com as exceções de praxe, de olho apenas no seu bolso, pouco se importando para a nossa qualidade de vida. Os exemplos de afronta à ética, à cidadania, se contam aos milhares em todo o mundo e volta e meia um remédio é recolhido pelos seus efeitos nocivos, geralmente muito depois de ter dado lucros bilionários para os laboratórios fabricantes.

Nada de publicar release de laboratório, nada de fazer o jogo da indústria da saúde, nada de acreditar que os congressos ou eventos dessa área, patrocinados pela indústria farmacêutica, são isentos. Repetindo mais um ditado: por fora, bela viola e , por dentro, pão bolorento.

Em tempo: os representantes sérios da indústria farmacêutica certamente lerão este artigo sem colocar a carapuça. Já os que têm rabo preso, espero que fiquem mesmo incomodados com o alerta. Desconfiar sempre, gente. Não existe almoço grátis.

Fonte: Portal Imprensa

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

10 tipos de medicamentos faltam na famárcia dos Excepcionais no Piauí

Sesapi diz que fornecedores estão fazendo “jogo político” com medicamentos excepcionais.

A diretora da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi), Maria do Espírito Santo Cavalcante, confirmou a falta de medicamentos excepcionais da farmácia do Estado, e disse que isso está acontecendo porque os fornecedores estão fazendo um “jogo político lamentável”.

Segundo ela, são entre 10 e 15 fornecedores que estão deixando de entregar os medicamentos e pressionam para aumento dos preços. “Eles aproveitaram o intervalo entre o recesso do final do ano e o próximo pregão que deve acontecer dia 19, para forçar a Secretaria aumentar os preços dos remédios, mas esse reajuste só pode ser feito pela Central de Licitações, mas quem paga a conta é a Sesapi”, explicou.


A diretora disse que vai levar o caso ao Ministério Público. “Os fornecedores não podem usar da situação dos pacientes que necessitam desses medicamentos como forma para ganhar mais dinheiro”, declarou.


Há medicamentos que faltam há mais de 50 dias.


Veja a lista:


1. Mesalina 500g – para doença que afeta intestino grosso;
2. Amandatadina 100g – para Mal de Parkison;
3. Donepezil 5 mg – Mal de Alzheimer
4. Levotiroxina 25 e 75 mg – hipertireoidismo congênito
5. Deferiprona e/ou Deferasirox 500mg – anemia falsiforme
6. Infliximabe 100mg – artrite reumatóide e doença de Crohn
7. Somatropina 4 UI – para nanismo
8. Betaionterferona 1 a 44mg “Rebif 44” – Esclerose múltipla
9. Sulfassalazina 500mg – Reticolite
10. Selegina 5 e 10mg – Mal de Alzheimer

Fonte: Portal Cidade Verde