domingo, 5 de julho de 2009

A era da medicina personalizada pode estar chegando



Por Andrew Pollack
Um novo medicamento para acne, o Aczone, foi aprovado em Julho, mas com uma pegadinha. O FDA disse que é necessário que os pacientes sejam testados para a deficiência em uma enzima que os levaria a desenvolver anemia em contato com o remédio.

O tempo da medicina personalizada está chegando. Segundo os especialistas, cada vez mais as terapias estarão sendo feitas sob medida para os pacientes, baseado em sua estrutura genética ou suas medidas médicas. Isso permitirá que as pessoas obtenham medicamentos que funcionarão melhor para elas e evitar os que teriam efeitos colaterais.

Mas o caso do Aczone ilustra as barreiras desta nova era. As empresas farmacêuticas temem que se for necessário o teste, isso desencoraje os médicos na hora de prescrever os remédios limitando as vendas a poucos pacientes.

Depois de saber da necessidade dos testes para o Aczone, Astellas, um de seus criadores, abandonou o medicamento.

O outro criador, QLT, está planejando outros testes clínicos na esperança de retirar essa exigência. Eles argumentam que em outros testes clínicos apenas 1.4 por cento dos pacientes tiveram deficiência nesta enzima, e nenhum desenvolveu anemia.


Fazer remédios sob medida pode ser um problema para os médicos, tanto quanto para os fabricantes.

A transfusão de sangue é um exemplo disso. Muitos centros de transfusão adorariam ter um único tipo de sangue que servisse para todo mundo, ao invés de ter diversos tipo em estoque e a preocupação do que pode acontecer em caso de transfusão do tipo de sangue errado.

Ainda assim, muitos médicos, reguladores, analistas de mercado e executivos farmacêuticos concordam que apesar dos obstáculos a medicina personalizada é inevitável.

Cerca de 40 a 50 psiquiatras na Clínica Mayo usaram testes genéticos para ajudar a escolher o remédio que irão prescrever, disse Dr. David A. Mrazek, representante da psiquiatria na Mayo. Algumas companhias oferecem os testes diretamente aos consumidores.

Mary Jane Q. Cross, artista de Newport desenvolveu um tremor permanente no lado direito de seu corpo depois de tomar o antidepressivo Prozac por 14 anos. Ela agora pinta com os dedos pois não consegue segurar o pincel.

Há um ano ela pagou cerca de US$ 600,00 para a Genelex, uma companhia de testes genéticos em Seattle, para confirmar que ela teria problemas para tolerar alguns medicamentos, possivelmente incluindo o Prozac. "Se eu soubesse disso há 14 anos não teria usado esse remédio", disse Cross.

Recentemente, quando ela teve uma apendicite de emergência, ela alertou aos médicos que usassem pouca anestesia baseada em seus testes. "meu marido teve que ir para casa no meio da noite para pegar o material e deixar claro para eles que é um assunto sério".


Alguns cientistas descobriram numerosos exemplos de variação genética que podem ajudar a prever quem irá responder a uma droga ou sofrerá efeitos colaterais. A maioria dos fabricantes de remédios coleta rotineiramente amostras de DNA de pacientes em testes clínicos para obter essas informações.

Em março o FDA criou normas para encorajar as fabricantes de medicamentos a perseguir a medicina personalizada e a agência está acrescentando informações sobre testes genéticos nas embalagens de alguns remédios.

Desde junho o rotulo da Camptosar, um remédio da Pfizer para câncer de cólon, alerta aos médicos que uma dose baixa do remédio pode ser recomendada a 10 por cento das pessoas que tem uma versão particular do gene UGT1A1. A variante os torna mais propensos ao efeito colateral: uma séria queda no número de células brancas.


Mas, apesar dos progressos, muitos outros anos de trabalho serão precisos antes que combinações de remédios e testes possam chegar ao mercado.


"Eu não vejo indicações de chegada no mercado nos próximos cinco anos de um medicamento que tenha informações genéticas no rótulo", disse o doutor Gualberto Ruano, presidente Genomas, companhia que realiza testes genéticos para o uso de remédios.

Fonte: The New York Times

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